quinta-feira, 30 de junho de 2011



Experiência de mobilidade

Aos dezanove anos de idade a minha mãe (Angelina) saiu da sua aldeia cujo nome é Valbom. É uma aldeia situada na Beira Litoral do nosso país, onde vivia na casa dos seus pais.

O meu avô materno ficou a pensar que a ida da minha mãe para Lisboa era para cumprir a tropa como os seus irmãos mais velhos e para o tranquilizar a minha mãe disse que sim.
O que a minha mãe realmente tencionava era procurar novas oportunidades em Lisboa pois pretendia ter uma vida diferente, não queria ser como as amigas de infância que tinham de trabalhar no campo dia e noite para ganhar o pão.
Ao deixar a aldeia, dirigiu-se à Vila mais próxima (Alvaiázere), sede de Concelho da sua aldeia.
Foi um sufoco de viagem, a camioneta parava em todas as vilas e aldeias, pensando a minha mãe que Lisboa era mais próxima. A viagem prolongou-se durante oito horas mas na altura era a alternativa mais viável para chegar ao seu destino, Sacavém.

Ao chegar a Sacavém tinha um dos seus irmãos à sua espera, pois ia para uma cidade na qual ninguém conhecia. Até arranjar um emprego estável ficou na casa desse irmão, para poder conseguir organizar a sua vida de modo a procurar um quarto ou até mesmo uma casa.
No dia seguinte foi logo à procura de trabalho, o que foi muito complicado pois não conhecia nada em Lisboa e tudo era uma novidade.
Depois de muito esforço, vontade, dedicação, lá conseguiu encontrar trabalho numa pastelaria em Moscavide, apenas da parte da tarde, saindo assim sempre por volta da meia noite.
A adaptação foi um pouco complicada, pois não sabia onde e quais os transportes que tinha que apanhar para se poder deslocar pelo que se aventurava muito, as necessidades assim o obrigavam.
Tudo era novidade, sendo prioridade a observação de tudo o que a rodeava, desde os carros, às estradas, às casas, às roupas que as pessoas vestiam e logo chegava a um consenso, tudo era bem diferente.
As rotinas não eram problema para a minha mãe, pois estava habituada às regras e disciplina impostas pela lida do campo, pois tinham horas a cumprir e metas a atingir. A minha mãe era já de si uma pessoa muito activa.
Outra dificuldade com que ela se deparou foi a linguagem, pois tinha uma pronúncia diferente dos Alfacinhas, o que por vezes parecia que servia de chacota, tendo assim feito alguns esforços para modificar a fonética.
O seu primeiro ordenado serviu para pagar a alimentação, os transportes e ajudar nas contas de casa do meu tio. Ainda chegou para poder fazer umas comprinhas, pois queria mudar um pouco a sua maneira de vestir. Mesmo sendo pouco dava para conseguir organizar um inicio de vida.
Quanto aos horários de refeição, também eram diferentes, pois havia pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar, rotina bem diferente daquela que conheceu no campo.
Esta mudança de vida fez com que muita coisa se tornasse diferente, pois os tempos são outros assim como as dificuldades e necessidades.


Hoje tem uma família constituída com filho e marido, depois de muita luta e dedicação para que nada faltasse.